André Marques, o próprio.

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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Desordem

O amor é apego. O amor é lástima. O amor é perdão. Alguns loucos consideram-no a maior de todas as subjugações.
No tempo que se estende, as pessoas dependem demasiado do amor. Constroem na cabeça o medo da ruína, da perda, o que faz com que não consigam entregar-se na totalidade. O que acaba por ser normal. Ou considerado como tal. Existe o trabalho, a carreira, os sonhos, as perspetivas futuras. As mulheres ocupam cada vez mais lugares de topo nas empresas onde trabalham, vivem demasiado preocupadas com o amanhã, e os homens continuam a preferir não mudar. Continuam a idolatrar as loiras. Ou as morenas. As gordas. Ou as magras. As menos inteligentes e as burras. Um sem número de caraterísticas próprias do sexo masculino. Respiram o agora. O aclamado amor “Pragma”. Devido à chuva, ou ao calor, homens e mulheres avaliam cada vez mais todas as possibilidades antes de entrarem numa relação afetiva. E efetiva. O investe, não investe. Um bom pai, ou uma boa mãe para os rebentos. Aquele amor que espera ser gratificado. Aquele amor que espera algo em troca.
O amor não deve ser o início de tudo. E muito menos o fim. Deve fazer-nos pensar. E não sofrer. Deve fazer-nos loucos. Deve-nos agarrar o tempo e ao mesmo tempo esquecê-lo. O amor é uma espécie de ordem que vive da desordem. Da desarrumação. Como uma cama por fazer. Ou uma armadilha por descobrir. O amor deve comandar-nos, mas nunca matar-nos. Apenas de sorrisos.
Acredito que o amor é essencial, e estupidamente precioso. Mas cada vez mais difícil de encontrar. O amor. No entanto, devemos continuar a ser autónomos, independentes. Mesmo dentro de uma relação. Daquelas que julgamos ser para a vida inteira. Não devemos, de forma alguma, acreditar demasiado no outro. Não devemos ser exclusividade de ninguém. O que não significa sentir menos amor pelo outro. Os sonhos continuam a ser sonhos, e a submissão não é um produto aconselhável. O amor obriga-nos a crescer, e a preparar surpresas. Como um ramo de flores ao entardecer. Um jantar à beira mar. Ou uma simples ida ao cinema ver um daqueles filmes lamechas. Tudo acontece com o tempo. E com tempo.
Para amarmos e sermos amados só necessitamos de três ingredientes: reciprocidade, aspiração física, e uma exímia dose de felicidade. Nada mais. E se tudo isto resultar, mais nada deveria valer. Entretanto, deve haver conta, peso e medida. Importar-nos se o outro sente calafrios por outras pessoas. Se, por ventura, idealiza produzir coisas sozinho. Se tem mais idade, ou menos idade. Se tem atenções diferentes. Ou quantas vezes telefona por dia.
Uma coisa é exata, não se pode lutar contra a independência. O amor será sempre autónomo. Não há volta a dar.
Segundo a ideologia Pessoana, o amor obedece ao romantismo tragiano que conduz, ocasionalmente, ao caminho da deceção. Apenas prescrevendo à morte quando, aceite desde o começo, decide embelecer uma nova roupagem de alma.
Na vida real, o amor é um pouco de tudo e um resto de nada.


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