André Marques, o próprio.

André Marques, o próprio.
André Marques, o próprio.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

As pessoas que sonhavam felicidade.




Estava eu deleitado sobre a minha obscura e apreciadora papeleira, quando, depois de uma indagação aleatória no computador, talvez por mera escorregadela, examino uma série de acontecimentos relacionados com a atual situação do país. Ou do que resta dele. De repente, o meu órgão do aparelho digestivo, aquele em forma de saquinho em que se carrega o dinheiro, onde o bolo alimentar é digerido, situado abaixo do diafragma, ou seja, estômago, começou incredulamente num reboliço formidável, repugnante, e senti mesmo o infortúnio infiltrar-se no meu pequeno mas genuíno cérebro. Então, resistente, pensei “ Por que não injetar uma boa dose de felicidade, ou de exemplos dela, na estapafúrdia crise económica e social atual? “ Let´s Go.

Segundo o PSD (Partido Social Democrata), alegremente chefiado por Pedro Passos Coelho, o país que um dia teve orgulho em falar português atravessa uma situação de crise económica e social que, dia após dia tende a ficar semelhante ao sol de verão, inexistente. Empiorado.

Defecando ainda mais um pouco sobre este assunto que me rouba o sorriso dos bolsos, ainda que metaforicamente, os crédulos anões estereotipados e mestres do marketing corroboram que é iminente responder com energia, ações contíguas atreladas a soluções excecionais, e, de preferência com visão para o futuro. Energia, apenas se for a necessária para chegar ao final do mês de algibeiras ilusionistas e mesmo assim, acreditar e gritar em bom português que o amanhã será mais prometedor a todos os níveis, se é que eles ainda existem ou possam ter uma definição concreta. Avançando para as ações, na opinião mais medíocre do meu ser afundo que o mais sensato seria a retribuição na mesma moeda aos capitães sem gancho as semelhantes toneladas de impostos e taxas que penalizam este e aquele zé-ninguém, como eu. Garantindo as soluções, como defraudado lusitano carrego nas costas a decisão da emigração, e o mais rápido possível. A visão para o futuro traduz-se em noites em que o sono oferece à inconsciência a capacidade para transcender a realidade palpável, assemelhando-se à energia descrita nesta sinalização de mudança de linha. Do que estes senhores se esquecem é que para se fazer um bolo não são necessários apenas ovos e duas mãos, que, aliás, como todo o trabalho exige, é distinto acreditar, obter perseverança e sobretudo uma exímia dose estimável de boa vontade e felicidade. Duas conjugações aparentemente impossíveis nos dias que correm, mais propriamente às 15h do dia 24 de Junho de 2013.

Futuro. Porvir. Vindouros. A posterioridade – portuguesa -, só é possível ser erguida se a felicidade estiver estampada no rosto das gentes com caráter, tendo como ponto de partida o coração e devidamente bombeada para todo o corpo através das contrações das suas paredes musculares.

A felicidade não passa apenas pela realização pessoal. Ultrapassa, indubitavelmente, o reconhecimento esforçoso do trabalho, de que vale a pena viver apesar de todas as intempéries. Viver com consciência e com a analogia correta, embora os passos de coelho sejam cada vez mais audíveis, é deixar de ser imole das suas próprias questões. É ser capaz de construir castelos no ar com a sabedoria de não domesticar forças para os desmoronar com um simples sopro. Ser feliz não é agradecer a Deus pela sua existência, mas deslumbrar-se pelo facto de ter nas mãos o papel fulcral da sua própria história. Ser feliz é ter o amor suficiente para poder enaltecer o coração de outra pessoa sem exigências, transtornos, independentemente da raça, etnia, religião, orientação sexual, ou outra merda qualquer. Ser feliz é, inclusive, transmitir sentimentos igualmente felizes, sempre, como se de uma obrigação se tratasse. Ser feliz é ter a coragem de mudar a vida de alguém. Não necessariamente a vida de um país. E quando tudo falha, o caminho mais correto é seguir as pisadas de alguém que possua todas as características traçadas neste parágrafo decisivo.

Na minha vasta lista cerebral de personalidades influentes, vejo-me na obrigação de referir Jorge Pina.

Jorge Pina é incrivelmente o exemplo a seguir e o homem do momento. A sua participação no programa Splash! Celebridades, transmitido todos os domingos pela SIC trouxe-nos a todos uma lufada de ar fresco. É uma das referências do Pugilismo nacional e aos 35 anos está cabalmente cego. Outro dia, na pastelaria da moda, encontrei três sexagenárias que falavam alegremente sobre Jorge. Uma delas, a mais esguia, cabelo bem penteado de quem já não tem nada para fazer a não ser ir ao cabeleireiro seis vezes por semana, dizia “ Ele é encantador “. As três sorriram ao mesmo tempo que tomavam o pequeno-almoço. Torradas e leite, nem mais. Outra, mais acabadita e com sinais de exuberantes pensamentos filosóficos, acrescentava “ Ele mostra a missão para a qual nascemos. Só vejo o programa por causa dele, até porque não desgosto da Júlia “. A terceira silenciou a conversa inteira, apenas acenava em concordância. Fiquei em alto grau de Contentamento. Debaixo do fraco calor matinal, fraquinho, senti que as pessoas se identificam com quem realmente importa e que de certa forma eu também me absorvo nelas, como se estivéssemos todos aconchegados no mesmo corpo e agíssemos como se fossemos uma família. É reconfortante. É realmente importante que estas mensagens sejam transmitidas como se fossem vírus. Se todas as doenças transmissíveis fossem desta dimensão, com certeza viveríamos todos de uma forma mais tranquila, melhor e sem medicação acrescida. Seria uma doença CRÓNICA formidável.

Continuando, e para os que ainda não sabem – acredito que poucos -, Jorge Pina perdeu a visão num treino normal. Mas não foi por esse incidente que desistiu da vida e, atualmente é um maratonista de excelência. É um ser incrivelmente entusiasmante, legítimo, que nos ensina que é na transparência da simplicidade que reside o amor e entrega verdadeiros. Um exemplo de vida. A vida para aqueles que apenas a sustenta, provinda de outro corpo.

Pode o país desabar, dos céus caírem rochas de culpa, o sol visitar a terra obedece a uma enorme probabilidade, ou mesmo o Passos terminar deitado num banco de jardim plantado à beira mar a ser devorado por grãos de areia revoltos, mas há algo que nunca devemos esquecer nem trespassar. Questionados? Procurem dentro de vós. Deixemo-nos de merdas insignificantes e sem cheiro. Procuremos acreditar que viver da brisa pode não ser assim tão ruim. Procuremos acreditar que dormir na banheira pode não ser assim tão horrível. Procuremos acreditar que caminhar sobre pregos até pode ser uma experiência agradável. Lixemo-nos para a merda do país em que vivemos. Ser feliz é amar o próximo depois de nos amarmos a nós mesmos. Acordar um dia de cada vez é tão simples como ler esta crónica.

Termino com uma frase que pode mudar as nossas vidas “ Agora vejo mais do que quando tinha os dois olhos…vejo com o coração porque os olhos por vezes enganam “. Esta frase é tão simples como ser de Jorge Pina. Em tempo de materialismo a palavra de ordem é SIMPLICIDADE. Ser feliz não custa, basta saber dar-lhe a definição correta. Outra coisa importante é pensarmos que um dia a crise se esfume. Eu tenho as certezas todas no sítio, sabem porquê? Porque tudo tem o seu tempo, menos o amor. Agora sim, terminei.






Sem comentários:

Enviar um comentário